A música que vem do lixo

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O desperdício pode dar um bom som, jura Catarina Figueira. Os putos vão gostar de lixo.




O concerto esteve inicialmente agendado para o Dia da Criança, mas as ameaças de mau tempo e chuva em Junho (os deuses devem estar mesmo loucos) obrigaram ao seu cancelamento. Quase dois meses depois, já com o Verão sem medo de se assumir, está tudo a postos para ouvir, em toda a sua pujança, a música que vem do lixo.

Sim, é isso mesmo, leu bem. Se é um fã incondicional de instrumentos e concertos a atirar para o tradicional e está empenhado em transmitir esse legado aos seus filhos, isto não é para si. Pode virar a página que nós não nos importamos. Mas se porventura estiver interessado em proporcionar aos miúdos uma experiência musical diferente, então não espere nem mais um segundo. Pegue no telefone, marque o 21 782 3110 e reserve bilhetes para toda a família. Depois, é só aparecer no dia do espectáculo (há duas datas disponíveis) e desfrutar de uma performance no mínimo original e, ainda por cima, ao ar livre.

Mas quem são estes músicos (portugueses, ainda por cima) apostados em tocar tampas e caixotes do lixo em metal? O Drumming Grupo de Percussão foi criado em 1999 como resultado do primeiro curso de percussão de nível superior aberto em Portugal, pela Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo do Porto. Antes disso, porém, já os seus elementos se juntavam com o intuito de explorar este tipo de sonoridade. “Como não queríamos que se perdesse, decidimos juntarmo-nos de forma mais profissional”, diz Miquel Bernat, o director musical do Drumming Grupo de Percussão.

O sentimento de “guardiães da música do lixo” faz sentido se pensarmos que os seus primeiros intérpretes foram os escravos do século XIX. A partir daí, foi tipo bola de neve. Em plena Segunda Guerra Mundial havia gente a aproveitar o betão e as chapas que sobravam da construção de material bélico para fazer música e nas Caraíbas há muito que os caixotes do lixo em metal têm um lugar legítimo na categoria de instrumentos musicais. No Reino Unido existem mais de mil bandas de steel drums, cuja sonoridade também já chegou à Austrália, ao México e ao Japão.
“O timbre dos instrumentos é muito vivo, as pessoas sentem-se cativadas”, refere o músico, acrescentando que a constituição do Drumming Grupo de Percussão é similar à de uma orquestra mais tradicional.
O repertório dos steel drums é tão elástico que vai desde a música clássica à pop. Daí o alinhamento dos concertos da Gulbenkian incluir trechos inspirados na obra do guitarrista Carlos Paredes a par de peças com sonoridade rock. E, no meio de tudo isto, há a mensagem, que não pode ser esquecida de tão bonita que é: “Além de mostrarmos ao público a história destes instrumentos, aproveitados de materiais que têm outras funções, tentamos sensibilizar as pessoas para a importância da reciclagem e de termos todos uma postura anti-poluição”, explica Bernat.
Portanto, já sabe. Se a sua criança desatar a balançar a anca ao som das tampas dos caixotes, não lhe reprima o contentamento. Deixe-se contagiar pelo ritmo tropical e siga-lhe os movimentos. Porque de vez em quando é possível ter as Caraíbas no meio de Lisboa.



Por  Timeout do Drumming Grupo de Percussão,
A música que vem do lixxo
disponivel em < http://timeout.sapo.pt/news.asp?id_news=1913 
                                                       acessado em 12 de setembro de 2012



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